Com a ida a Lisboa, em plena licença de maternidade, a dois dias de fazer dois mesinhos de baby Miguel, voltei finalmente a ter um gostinho da animação que é o terreno social do Carrossel e foi… muito bom, refrescante, agri-doce, deprimente. Tudo junto e ao mesmo tempo. Bem paradoxal, como se quer.
Assim que me sentei na cadeira da maquilhagem, foi muito bom, claro. Eu sabia que quando abrisse os olhos, lá estaria eu, versão mimada em modo expresso, uber produzida, por umas mãos que não as minhas, que não no carro, a correr [eu estou MEGA profissional da make on the go, sempre que vamos a algum lado, eu vou no pendura, porque finalmente vou ter as mãos livres por dois segundos e posso dar um jeito a este meu rosto…]. E assim foi, uns minutinhos de pinceladas e já nem me reconhecia, mas estava de volta! Foi como uma transformação da fada madrinha! Fez-me muito bem, adorei "rever-me"com um smoky eye, já tinha imensas saudades minhas e ainda por cima tinha uma óptima razão de ser, dar a conhecer mais uma vez os nossos brinquedos!
Mas não há bela sem senão… O travo agridoce e deprimente veio quando vi a minha figura na TV. Já bem me bastavam os quilos que o ecrã nos carrega, mas eu carregar esta minha barriga de castigo, e vê-la tão de fora, tão objectivamente exposta, custou-me, confesso.
Lá estava ela, espetada, redonda, flácida, bem marcada debaixo de uma camisola larguíssima, e ainda assim! Nem quero imaginar como teria sido se tivesse usado uma camisola mais justa. a minha televisão se tivesse olhos teria rachado com o choque! E o pior, é verdade, é que não ficaria nada chocada. Porque a minha tv está habituada a reflectir a imagem de uma mulher de cara lavada, roupas de trazer por casa, com restos de bolçado, cabelo em desalinho, com a cara enfiada no computador e semblante carregado de trabalho, ou ocupado e distraído com o baby. É assim que a minha TV me descreveria, se tivesse boca.
Com o baby em casa todos os dias, apenas tento zelar pela minha sanidade mental. Estar apresentável para quem venha ao engano bater à porta da minha casa é o que se pretende - os mínimos, portanto. Sempre que vou buscar o Pedro ao colégio ou dou um salto ao super, vou bem rápida e ligeira, para não andar a desfilar muito a minha figurinha deprimente.
O bom de um bebé de Inverno é ficarmos enfiadas na toca a lamber a cria e as feridas de guerra, mas por outro lado isso não nos espevita a puxar pela auto-estima, a arranjarmo-nos à força. Ao mesmo tempo que cobre as mossas e montes que a geração de uma nova vida deixa para trás, por vezes atira-nos com a realidade do nosso corpo pós parto quando menos esperamos. À traição.
Ver a minha barriga (e ancas e pernas) de pós parto depois do banho é uma coisa. Eu tenho muitos quilos para perder, mas não é uma questão de estar mais gorda, mas sim disforme. Eu vejo-me, eu não tenho medo de me olhar de frente, por muito que revire os olhos, que não me apeteça olhar, que pense comigo, oh céus, como é que saio deste corpo que me sobrou?! É deprimente, mas sou eu, por enquanto, lá vamos convivendo. Agora, eu fazer o meu melhor por disfarçar, para brincar ao antigo eu, e não conseguir de mim me esconder, é desleal. O meu corpo não me dar essa abébia, por uma vez, é desleal.
O meu eu verdadeiro não tem uma segunda barriga pendente e enrugada e mamas que crescem e minguam de três em três horas. O meu eu não é perfeito, longe disso, mas não é isto que me restou. Porque o que eu tenho a mais é A MAIS, é-me estranho, recuso, quero devolver à proveniência. Se devolverei ou não, está por ver.
Ninguém sai ilesa da maternidade, e o preço que se paga no corpo é baixo, tendo em conta o que se ganha na troca. É baixo, sem dúvida. É desleal, mas é baixo. Agora, ao menos que o saldo seja o mais positivo possível. Eu mereço isso, enquanto mulher. Os meus filhos estão cá fora, não na minha barriga, não nas minhas ancas, não nas minhas mamas. Se estas carnes a mais ficarem para sempre, pois que não me resta outra alternativa senão abraçá-las, assumi-las, fazê-las minhas. Mas até lá quero matá-las bem mortas.
Spring will come.