Por cima do meu gabinete vive uma pessoa que toca flauta transversal. Volta e meia, lá pelo fim da tarde, quando eu já estava bem cansada, de repente ouvia ao longe, levemente, a pessoa a treinar escalas e a tocar peças maravilhosas. Eu parava por um segundo, olhava para o meu tecto, pensava "Música...", suspirava e voltava à minha vidinha.
De há uns tempos para cá deixei de ouvir a flauta. Passei a ouvir, de manhã, à tarde, de vez em quando, mas todos os dias, ao longe, compassadamente, um bebé a chorar, aquele choro recém-nascido "nhé-nhé-nhé". Eu paro por um segundo, olho para o meu tecto, engulo em seco e volto à minha vidinha.
Parece-me impossível voltar a ouvir a flauta transversal antes de eu própria incorporar no meu dia-a-dia o choro da minha cria a chamar por mim, porque só eu lhe posso valer e ela ainda não sabe articular num tom com mínima urbanidade "quero comer", "já fiz", "tenho calor", "dói-me imenso a barriga".
Espero voltar a ouvir a flauta, nem que seja bem depois de eu própria voltar a passar horas seguidas no meu gabinete. Assim eu poderei olhar para o meu tecto e pensar: "Cá estamos na nossa vidinha..."
De há uns tempos para cá deixei de ouvir a flauta. Passei a ouvir, de manhã, à tarde, de vez em quando, mas todos os dias, ao longe, compassadamente, um bebé a chorar, aquele choro recém-nascido "nhé-nhé-nhé". Eu paro por um segundo, olho para o meu tecto, engulo em seco e volto à minha vidinha.
Parece-me impossível voltar a ouvir a flauta transversal antes de eu própria incorporar no meu dia-a-dia o choro da minha cria a chamar por mim, porque só eu lhe posso valer e ela ainda não sabe articular num tom com mínima urbanidade "quero comer", "já fiz", "tenho calor", "dói-me imenso a barriga".
Espero voltar a ouvir a flauta, nem que seja bem depois de eu própria voltar a passar horas seguidas no meu gabinete. Assim eu poderei olhar para o meu tecto e pensar: "Cá estamos na nossa vidinha..."