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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Anatomia de uma ida à pediatra

Este post também pode ser lido em ConsultaClick.pt.


Lembro-me como se fosse hoje, ficaram gravadas a ferros na minha memória, eram todas diferentes, todas iguais.
Durante o primeiro ano de vida do meu filho, ir ao pediatra era a aventura mensal com data marcada! Então era assim:

A consulta começava logo no final da consulta anterior, na marcação da consulta seguinte. Invariavelmente mãe fazia contas de cabeça supersónicas às horas em que seria mais fácil levar o baby à pediatra. Primeiro vinham questões dos horários dos pais, depois os horários da rotina do baby. Em vez de ter um ranking de horas previamente encucado não, punha-se com prós e contras em plena receção: “A esta hora não que é provável que não possa, a esta não que o marido não pode de certeza, a esta não que o baby dorme, a esta não que come, a esta não que funga, olhe, marque para X. Não pode? E Y? Ai, também não pode. E Z? Não. Cheguei ao fim do alfabeto, dê-me as horas disponíveis. Ok, pode ser essa mesma.” A rasgar a hora de trabalho e em cheio em cima da sesta do baby.
Brilhante.

Pais voltavam ao doce lar e esqueciam a consulta, envoltos em fraldas e toalhetas e ranhos e banhos e mamas e sopas.
Até a véspera da consulta. Às vezes a véspera da consulta vinha a revelar-se o dia seguinte da consulta.
Brilhante. Lá se marcava a véspera da consulta para outro dia e respetiva consulta também, bem visto.

Quando a véspera conferia (graçasaoscéus) mãe extremosa pensava em alinhar a roupa, preparar a maleta, deixar tudo pronto. Entretanto… “Só um bocadinho que agora tenho de ver isto no canal E!, já vou. Ai que agora o baby chora. Ai que agora o baby mama. Ai que agora já estamos no dia seguinte (o da consulta, bem entendido) e o baby vai dormir a sesta e não quero acordá-lo nem por nada, fica para quando acordar.” Três horitas antes da consulta.
E o que acontecia? O baby não dormia a sesta. Mas também não deixava a mãe arrumar as coisas com calma. Dormitava e acordava e rabujava e resfolegava e já queria comer outra vez, “… mas não pode, ainda é tão cedo, mas se calhar quer mesmo…”, e dormitava e era a chupeta e era a fralda, mas já estava tão cansado e não dormia. Na última vez que dormitava, faltava uma horita para a consulta. Mala não estava feita, baby ia ter de ser acordado para ser vestido e levado à consulta.
Brilhante.

Meia horita antes da consulta baby estava rabugento, não estava para deixar mudar a fralda, nem vestir, nem comer, nem nada, só queria dormir ou rabujar.

Mãe extremosa resolvia ser bulldozer, consulta ou morte! Baby com o estômago cheio, fralda trocada, roupinha posta. Maleta por fazer. Pois bem, primeiro, baby bolçava a roupa, tinha de ser trocada. Depois de trocada a roupa, baby fazia cocó e mãe tinha de tirar tudo para trocar a fralda. Depois de trocada a fralda e novamente vestido, novo cocó, que suja a roupa. Nova muda de roupa. E de fralda. Nesta altura já baby vai de fato de treino, todos os fofos estão para lavar. Mãe suava.
Maleta levava o que tinha da consulta anterior, os documentos e uma fralda que já não lhe servia, vai assim mesmo, o pai já chegou e apressa tudo.

Quando pais chegavam para a consulta, mãe revirava a maleta e apercebia-se que faltava fralda de pano, fralda do tamanho atual, muda de roupa. Se desse tempo de o pai voltar a casa, muito bem, se não, menos mal, pais trouxeram criança e livrete das vacinas, podia ser pior, não?
Baby era despido para pesar, fazia xixi em plena pesagem. Molhava quem o pesava, molhava a fralda de pano do consultório, molhava a roupa que ficou do outro lado da mesa. Ah, filho valente, orgulho de seu pai! Pormenor: baby ficava sem ter o que vestir.

Seguiam todos para a consulta. Paraíso.
Baby portava-se lindamente, olhava curioso, adorava a pediatra. A consulta dos 18 meses ainda estava longe, foi só nesta que o Pedro nos cobriu de vergonha e estoirou os tímpanos da pediatra. Pediatra virava e revirava, media, via, auscultava. Baby sorria, amoroso.
Pais tiravam dúvidas, faziam relatório de atividades do baby, partilhavam preocupações comuns, desculpavam-se do caos em que traziam o rebento. São elucidados, informados, reconfortados e acalmados. O seu rebento é perfeito, continuava perfeito e estava a crescer perfeitamente.

Brilhante! Venha a próxima consulta!

2 comentários:

  1. Ahahahah!!! Até fiquei cansada!!! Muito bom...

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  2. Hilariante ML... o que me fizeste relembrar! O que me espera nos próximos tempos!!
    Não alterava nada na tua descrição, pois as sessões com o Salvador eram iguaizinhas... até mete medo, eheheheh

    Beijinhos :D

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