Desta vez o Pedro tirou a barriga da miséria. Chorou a bem chorar,
foi
muito consolado e com toda a razão.
Ontem fomos às vacinas e não se fez a coisa por menos, levou três, duas no mesmo
braço, a doerem a valer. Coitadinho, o que ele chorou. A incredulidade
no olhar dele, a ver a enfermeira com um ar tão simpático, a espetar-lhe
uma agulha no braço. "Mas o que foi isto, que me matam! E vem aí outra, não acredito!"
Eu
segurei-o bem seguro, para que nada corresse ao lado e até fiquei cheia
de peninha dele, eu que não sou nada de me condoer com dores de vacinas.
Nunca fui piegas com as minhas vacinas, nunca fui piegas com as dele.
Se ele chora, não vou chorar eu também, não vou enervar-me nem ficar ansiosa, vou mas é manter a calma para ajudar a acalmar-se ele. E o
facto é que esta foi a primeira vez que chorou a bem chorar, então nos
primeiros meses nem ele chorava, quanto mais. Sempre tive bem presente
que o ganho é
muito superior àquela dor momentanea, não custa nada. E para que fique a
vacina bem dada não pode haver drama. Uma febre ou uma reação mais
forte é uma possibilidade com a qual há que lidar, mais uma vez, sem
dramas. Além de que sempre se poupa a enfermeira (ou enfermeiro, que já
me calhou duas vezes) a tratar da mãe além do filho, eles já devem ter
assistido a cenas deprimentes de mães extremosas que chegue...
De
facto, a Sra. enfermeira que nos atendeu deve ter ficado impressionada
com a relativa limpeza que aquilo foi. Mãe distrai o filho, mãe impede
que o filho mexa nas coisas que estão na secretária, mãe segura forte no
filho sem drama, filho a chorar e mãe a consolar muito ao mesmo tempo
que pergunta onde é a próxima, mãe não chora nem pestaneja, mãe consola
muito, abraça muito, mas só quer saber de efeitos secundários. No fim da
visita, depois de 10 minutos de choro, que aquilo doeu mesmo e o Pedro
também fez render os últimos minutinhos, vá, e mãe consolou, que
continuava com peninha, pronto, já o Pedro estava ao colo da enfermeira
com as pazes feitas e promessa de nova visita, mas só daqui a uns meses,
ninguém leva a mal! Antes de me ir
embora perguntou-me se era o meu primeiro filho... Eu ri-me e disse que
sim. Ela riu-se também. Estávamos entendidas.
Mas será que é suposto as mães (de primeira viagem) serem assim
tão piegas? Ou estará a sociedade já tão mal habituada com tudo a fazer
mossa, tão sensível a tudo, até vacinas, que espera reações dramáticas? Ou estarei mesmo destinada a
ser rotulada de insensível (quiça pouco amorosa, pouco "humana") porque
entendo que não pode haver motivo para eu chorar quando há motivo para o
meu filho chorar, bem pelo contrário?
Anyway, hoje ficamos por casa. O Pedro acordou choroso, febril e dorido, bateu forte esta sessão de picadelas, tadinho...