Eu bem gostava de dizer que esperei o meu filho com serenidade, mostrar fotografias belas dos últimos dias, mostrar fotografias dos últimos dias de todo (!), lembrar com saudade e nostalgia a minha barriga, mas...
pensando nos últimos tempos, maxime nos últimos dias, não posso, sinto muito...
A minha gravidez foi absolutamente normal: não tive nenhum susto, sempre me senti bem e o bebé também, tive os meus encontros imediatos com a Porcelanosa, os nérvus em franja do meu nervo ciático, os meus desconfortos e faltas de posição à medida que o Pedro crescia. Nada de mais e nada de que me queixasse muito, que eu nem gosto de ver aproveitar a gravidez para desatar um rol de queixas e queixinhas e queixumes mimimi.
Mas em finais de Setembro, e depois de um fim-de-semana em viagem e um dia de trabalho mais puxado, o meu corpo disse "Sayonara!" e abandonou-nos à nossa sorte. A mim e ao meu filho que ainda nem tinha nascido, coitadinho.
Faltavam vinte dias para as quarenta semanas e as dores de costas insuportáveis que pareciam contrações de parto, eram só contrações, ponto. O primeiro alarme falso tinha sido diagnosticado, às 10 da noite. Um dia mais cansativo, dores normais de fim de gestação. No dia seguinte estaria melhor.
Ehr, não.
Primeira noite em claro a fazer o ritual de preparação para o parto de que tanto tinha ouvido falar nas aulas de preparação para o parto.
Na manhã seguinte, depois de mais uma visita ao hospital e respectiva volta a casa sem novidades (alarme falso #2), deixei-me estar sossegada em casa, a ver se as dores nas costas, na barriga, o aperto, a falta de ar, o estalar da barriga, a pele esticada e irritada, as pernas dormentes, enfim, só coisas maravilhosas, passavam.
Mas não. Eu não encontrava posição para dormir, passei dez dias (10 inteiros!) a tentar dormir no chão porque na cama era totalmente impossível. A tentar dormir sentada, porque deitada era impossível. Só conseguia dormitar, porque assim que adormecia, já o corpo se queixava que tinha de mudar de posição e ia tudo ao ar.
Passei dez dias da minha vida sem dormir mais de vinte minutos, sem dormir profundamente, a mudar entre chão e sofá, sem conseguir endireitar-me, sem andar como deve ser, a cansar-me cada vez mais. Perdi o apetite, perdi o bom humor, perdi a paciência.
A pior altura do dia eram as horas da madrugada, em que todo o mundo dormia, menos eu, que estava a morrer de cansaço, mas a morrer de dores. Eu vivia uma sessão interminável de tortura de sono chinesa, porque ainda por cima tinha uma bola medicinal na barriga e mais treze quilos no lombo (e o meu bebé apertadinho no meio daquilo tudo, coitadinho...), pelo que as drogas que poderia tomar para aliviar a dor eram rebuçados, não valiam nada. E eu bem as tomei, não fui nada esquisita.
E o meu filho embrulhado no meio disto tudo, dentro de um corpo que tinha desertado de nós, comida que mal vinha, energias frustradas e frustrantes da mãezinha e drogas leves.
Foi horrível. Eu reviro os olhos às grávidas que passam a vida a queixar-se de tudo e de nada, mas estes meus últimos dez dias de gravidez foram horríveis. Eu chorava de dores e frustração, porque só queria que aquilo acabasse de vez, que o Pedro nascesse bem e rápido e eu me livrasse daquela barriga de vez. Começava a preocupar-me seriamente com as repercussões no meu filho daquilo que me andava a acontecer.
O meu corpo estava literalmente a rebentar pelas costuras. Quando finalmente rebentou, foi um alívio. Quando eu, deitada no sofá muito paradinha, senti um "poc" pensei, "Rebentou um músculo na barriga, agora é que me fui de vez".
Mas não, eram as membranas. Eu nunca corri tão rapidamente para a casa-de-banho. E nunca dei tantos pulinhos de alegria com uma barriga tão grande.
É que dei mesmo. Quando vi que tinham rebentado as águas, que daí a 24 horas no máximo o meu filho estaria nos meus braços e não esmagado dentro da minha barriga, que miraculosamente me tinham passado todas as dores, só podia dar saltinhos de alegria.
O milagre do desaparecer das dores chamava-se perda de pressão e eu ia perder muito mais e ganhar um mundo novo.
A pior parte do parto foram os dez últimos dias de gravidez. Não sei se por causa de tantas dores anteriores, se da adrenalina, se das drogas, só sei que as horas de dilatação foram um passeio na praia, o parto foi um instante, a fase de expulsão durou dois "faça força agora!!" (não mais de dois minutos, juro, correu mesmo bem).
Dez horas depois de saltar do sofá tinha o meu Pedro no meu colo.
Saudades da barriga, nostalgia da gravidez, amnésia dos piores momentos?
Peço imensa desculpa, NÃO
Estamos muito melhor assim, cada vez mais.
20 comentários:
Parabéns! :)
Obrigada, amanhã!
Por esta hora há dois anos ainda estava em desespero...
ahahahah!! Hoje eu sei o que é essa sensação, a da pressão! Imagino que nos últimos 10 dias tenha sido ao expoente máximo mas é um horror! Percebo as tuas não saudades e aplaudo de pé o facto de o assumires! :) Porque não há amnésia que apague isso - pode é haver um amor maior.
Beijinhos e parabéns!
:))
O meu corpo literalmente despressurizou.
A perda daqueles centímetros cúbicos de líquido fizeram toda a diferença, o meu corpo simplesmente não aguentava mais nada dentro de si...
Que descrição tão realista e sem eufemismos. Pensa que as outras semanas correram bem à exceção desses 10 dias. O mais importante, tens hoje aí nos teus braços. Parabéns a ele. beijinhos
Muitos parabéns ao Pedro e a vocês papás. Felicidades.
A ciática deve ser um autêntico pesadelo. Graças aos anjos do paríso nunca sofri disso. Livra! Mas a azia, o inchaço dos pés, o cansaço extremo e outras coisitas que guardo para mim - bem, também não tenho saudades nenhumas!
Parabéns ao seu pequenino, que é um mês e pico mais velhinho que o meu. E parabéns a si, que foi uma valente!
O teu filho nasceu no dia da minha filha, mas 2 anos mais tarde!!!
Completamente solidária ctg! Passei os últimos 15 dias a alternar entre o sofá e o chão, estraguei o sofá td por me estar sempre a virar sem posição, dormia sentada porque deitada era impossível e vagueava a maior parte da noite pela casa cheia de dores e com uma azia q não gosto de me lembrar! Até às 37 tive uma gravidez santa, depois disso foi um horror para um corpo de metro e meio com 18kgs a mais. O que ganhamos em seguida é muito melhor, mas eu não me esqueci também do enorme cansaço por não conseguir dormir! :) hoje voltaria a passar por outra gravidez, mas por favor para a próxima tirem-me a azia porque mal a C nasceu o sentimento de felicidade era duplo, por vê-la e porque a azia e as dores tinham desaparecido :)
Eu senti a perda da pressão por conseguir respirar, que era coisa que não estava a conseguir... :))))
Na noite imediatamente antes de a Bárbara nascer, tomei banho depois do jantar, olhei-me ao espelho e pensei "se incho mais, rebento que nem um balão". Até o meu nariz ficou batatudo! E nessa noite rebentaram as águas e eu lá fui "tinoni" ter a minha pequenina. :-) Chega a uma altura em que simplesmente não dá mais!
Andei 4 dias assim, a "dormir" sentada no sofá.
Curiosamente já não me lembrava muito disso, mas o teu relato trouxe essas recordações à baila.
Acho que é um sentimento de todas. No final já não podemos com a gravidez, é a verdade!
Não senti nada disso, andei bem até ao fim...só dormia mal como todas as grávidas! Tiro-te o meu chapéu! O melhor do mundo para vocês!
Muitos parabéns ao Pedro e a ti!
Um beijo enorme, repleto de felicidade*
Gostei imenso de conhecer as vossas experiências, as vossas retas finais, obrigada pela vossa partilha!
E desde já obrigada pelas vossas palavras neste dia, dois anos de Pedro!
Adorei saber das coincidências de datas, é tão giro!
Beijinhos a todas
Muitos Parabéns ao Pedro! Mas depois desta descrição, é a Mãe do Pedro que merece as felicitações... bolas!!! E mesmo assim, com coragem para repetir ;-) ! Bjos!
Bem, que sofrimento. Para a próxima aconselho o meu médico, que é o apressadinho dos partos. Diz ele que a partir das 36 semans não estão na barriga a fazer nada. Mas a minha só nasceu perto das 39 semanas, mesmo com os toques maravilhosos que me andava a fazer há uma semana. Que é para ele aprender ;)
;))))
Eu não esqueço esta partida que o meu corpo me pregou, mas o balanço da gravidez não pode ser muito afectado pelos últimos dez dias - borrou a pintura, mas não posso dizer que não tive uma gravidez muito boa, que tive...
E vale a pena arriscar-me a outra, ainda por cima as experiências das pessoas que conheço vão no sentido de não ser mais leve uma segunda gravidez, mas o resultado final vale tudo!
Beijinhos
Nem imagino o que será isso, mas imagino a força e coragem que tiveste e admiro e gosto ainda mais de "ouvir" depois de tudo isto que "o resultado final vale tudo" e eu concordo, e acho lindo que o digas.
Acho que sou uma sortuda porque a minha gravidez foi santa até ao final e o parto foi rápido. No dia em que fazia 42 semanas e na hora em que estaríamos a dar entrada no hospital para provocar o parto a minha filha nascia nessa mesma sala de partos ;D. Foi tudo muito rápido, claro que com algumas dores pelo meio... mas tal como dizes o resultado final tudo vale.
beijinhos e muitas felicidades*
Cheguei até aqui por acaso, e gostei!
Que lindo, Parabéns!
Estou grávida de gémeos (26 semanas) e o que sentiste nos últimos 10 dias sei bem o que é há muitas semanas com a agravante de já ter um rapazinho de 5 anos a requerer atenção constante. Assim e lendo o teu testemunho tenho esperança que o parto seja assim bonzinho para compensar ;)
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