Fui convidada pela Mãe Feliz a participar na Semana Mundial do Aleitamento Materno em Portugal, a qual é comemorada de 3 a 9 de Outubro e o tema é: Fale Comigo! Amamentação- uma experiência 3D. Achei uma óptima iniciativa e aqui fica o meu contributo, que espero possa ajudar alguém.
Já tinha falado sobre o assunto, aqui e resume bem a nossa experiência com a amamentação. Eu sempre quis dar de mamar ao Pedro pelas razões óbvias, é mais natural, é melhor para o bebé (cólicas, intolerância, imunidade, blablabla), é melhor para a mãe (fez com que o meu corpo voltasse ao peso normal in no time), é melhor para a carteira, é melhor para a cozinha. Correu sempre tudo muito bem nesse campo, sem grandes sobressaltos.
A natureza e a ciência hospitalar moderna têm coisas fantásticas, felizmente o parto correu muito bem e o Pedro saiu para o mundo cheio de pujança e pronto para se fazer à vida, pelo que desde os primeiros minutos cá fora o Pedro sabia o que fazer e eu estava em condições físicas e psicológicas para pegar o meu tourinho pelos cornos e virar, revirar, torcer, meter dedo na boca, pegar na cabeça para pôr a jeito, tirar braço, pôr braço, dar todas as voltas necessárias sem qualquer constrangimento para que a "acoplagem" se desse e tudo corresse bem, literalmente. O pior nos primeiros dias foi mesmo encontrar uma boa posição sentada, porque eu não conseguia sentar-me bem, essa parte foi muito difícil e ninguém me tinha avisado...
Uma coisa na minha experiência, na minha história, que acho que foi muito importante para mim e que quero partilhar foi ter bem assente na minha cabeça (o maridão foi fundamental, ele tinha a lição bem estudada, não tinha nhocas e floreados na cabeça e foi o nosso cheer leader e não deixava que ninguém me convencesse do contrário, xô palpiteiros!) algumas certezas: que ele não iria mamar muito nas primeiras vezes, porque ainda se estava a adaptar a comer com a boca, o seu estômago era do tamanho de uma noz e o colostro que eu lhe dava vem em pequenas quantidades, pelo que eu não me devia deixar impressionar pelo pouco que mamasse e teria calma - se ele não mamasse bem agora, daí a uma hora logo voltava a tentar-se. Que ele comer ou não, não seria um problema, nem um bicho de sete cabeças, seria mais uma coisa que ele tinha de aprender, com calma, pelo que eu punha-o a mamar e fazia os possíveis por mantê-lo acordado, assim que adormecesse ou estivesse por ali mais de meia hora, tirava-o e deitava-o sossegado - não quer, não come, daqui por uma ou duas horas volta a tentar-se. Assim eu me poupava física e psicologicamente e o bebé começava a topar a cena, "tás ali é para mamar, agora, buga nessa". E o Pedro tão pequenino, tão lento, tão delicado, mamava e dormia. O dormir dele, mais do que qualquer outra coisa, deixava-me descansada. Se ele dormia, estava bem, não me importava se tinha mamado muito ou pouco, se bolçava ou não, se ele dormia descansado e rosadinho, estava bem. E a coisa lá se foi desenvolvendo, ele parecia cada vez mamar melhor e mais (apesar de parecer tão pouco, e mamar durante tão pouco tempo...), e eu notava que ele esvaziava desde cedo uma mamoca, o que não levava muito esforço, diga-se de passagem, que não havia cá grande coisa para esvaziar.
Não sei se sim, se não, podia ser da minha constituição física, podia ser de o Pedro já estar encarrilhado e bem mamante, podia ser só sorte, não sei ao certo o que contribuiu para a subida do leite se dar sem eu sequer dar conta, o certo é que às tantas reparei que o colostro era branco e afinal já não seria colostro, mas sim leite, o que contribui muito para o meu descanso e continuação desta nossa viagem sem solavancos.
Conheço de perto relatos muito sofridos e angustiantes de primeiros dias e subidas de leite, pelo que fico muito aliviada por ter corrido tudo tão bem comigo, porque sei que podia ter corrido menos bem. Ou mal. Cá nos ajudamos, o Pedro a mim, eu ao Pedro, com o pai como braço armado e bafejados pela Mãe Natureza e pela sorte.
Assim que chegámos a casa e vimos que ele começava a dormir muito e depois pouco e depois nada e mamava mais erraticamente à conta disso e chorava sem nós termos certeza do que seria a causa, começámos a pôr o nosso Pedro numa rotina: mamar mais ou menos de duas horas e meia, três em três horas, estar acordadinho o máximo tempo possível (se chegasse à meia hora seria uma sorte), dormir e assim sucessivamente. Se ele estivesse a esticar o sono de dia, acordávamo-lo, à noite estava à vontade. Muita gente fica chocada ou com muita peninha de acordar um bebé que dorme, mas posso sossegar corações mais extremosos, nunca o Pedro se queixou de ser acordado, principalmente porque lhe era servida uma boa dose de leite quentinho que o deixava muito satisfeito. Isso fez com que pudéssemos avaliar melhor porque estava a chorar e ir queimando hipóteses, o que nos facilitava imenso a vida e nos tirava alguma ansiedade. No primeiro mês o Pedro dormiu e comeu, no segundo acordou para a vida e passou a ser mais difícil adormecê-lo e ensiná-lo a dormir mais de 45 minutos seguidos, mas ao menos as refeições eram trigo limpo e assim continuaram a ser.
Assim foram, de uma forma geral, os primeiros meses do Pedro a comer, correram muito bem.
Última referência, que isto já vai longo, mas TENHO MESMO de dizer isto: dar de mamar ao meu filho sempre foi muito bom e gratificante, mesmo porque colhemos todas as vantagens possíveis da amamentação, que são muitas e altamente desejáveis, mas nunca o senti como um momento idílico com música de fundo e passarinhos em que eu sentia uma ligação mais que especial com o meu bebé que ninguém mais poderia sentir e todas essas TRETAS que só servem para pressionar as mães a dar de mamar e adorá-lo a todo o custo e aguentar todos os dissabores e as que não podem ou não querem dar sentirem-se culpadas e a sentir que podem estar a perder algo de especial. É dar de comer. É a forma como os mamíferos dão de comer. Eu sentia tanta satisfação por ver o Pedro a mamar da minha mama, como ao sabê-lo a mamar do biberão que o pai lhe dava. Felizmente concretizámos o desejo de dar-lhe leite materno, mas se fosse artificial, a alegria de ver o meu bebé a ganhar peso e crescer lindo seria a mesma. É uma experiência única apenas na medida em que não ando por aí a dar de mamar a outros bebés e é giro sabermos que vem de nós o que sustenta o filho, mas o meu filho gosta de mim no matter what e não é a forma como ele come que vai determinar alguma coisa na nossa relação, mas sim o carinho com que eu lhe dava a comida.
Rebentemos a bolha da aleitamento materno a todo o custo e passemos a encarar as coisas com mais naturalidade, racionalidade, estratégia e calma. O aleitamento materno merece mais respeito do que servir de base para a culpa das mães, quer dêem, quer não. Não só é menos complicado e complexo dar de mamar do que se possa pensar à partida, como paradoxalmente é mais complicado e requer esforço e dedicação. Não se deve desistir à mínima contrariedade, mas não se deve sentir culpa se se seguir por outro caminho. Aliás, a minha querida Tracy Hogg, que deus a tenha, até defende a combinação de leite materno com artificial, pelo que até uma terceira via é possível. Tudo se resolve e eles crescem, oh se crescem!!
Disclaimer: as nossas estratégias de rotina e sonos foram colhidas nos livros da Tracy Hogg, já sabem, mas nunca é demais lembrar. O que foi bom e resultou para mim, recomendo a quem me lê e a quem quero bem, que são vocês!
19 comentários:
ora nem mais, bem escrito e descrito!
"É dar de comer. É a forma como os mamíferos dão de comer. "
parabéns, missão cumprida!!
:)
Ora nem mais! Adorei ler-te:)
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Muito bem. Eu também sou pró mas não sou fundamentalista.
Para mim foram momentos especiais mas também foram momentos de angustia. Dá-me muitas vezes mais prazer vê-la, agora, a beber pelo biberão do que me dava ao amamenta-la. O fantasma do aumento de peso assombrou-me por demais.
Adorei a parte do desmistificar que dar de mamar é o elo mais mágico que se pode criar entre mãe/bebé. Com muita pena minha,o meu leite não subiu (mistério). Eu, leiga, achei que a minha filha estaria a mamar colostro e a verdade é que passou fome dois dias(porque é que será que ela chorava?). Bebeu leite artificial, nunca teve cólicas, dormia bem. Mágico, para mim, foi vê-la serena e alimentada. E sempre vivemos momentos mágicos em muitas outras pequenas coisas.
Adorei! E identifiquei-me muito, a minha experiência também é muito idêntica.
Em relação ao vínculo especial que se cria com a amamentação, nem todas as mães o sentem (nem têm que sentir). É quase como o momento do nascimento, para mim foi um momento importante mas não digo que foi o melhor dia da minha vida como muitas pessoas o dizem... E não é isto que nos torna ou faz más mães.
Muito obrigada pelo testemunho, sem duvida que vai ajudar alguém!
Beijinhos
Amei e identifiquei-me!
Muito bem dito. Estivemos no "mesmo barco"!
Alexandra
LIndo! Adorei a maneira como foste frontal neste teu post! Eu faço parte das que não puderam dar leite por ter tido "azar". E senti essas coisas todas que falas. Hoje em dia já só quero é que a Francisca coma, pouca me importa como. Está a crescer e saudável...
Cá por casa também seguimos a Tracy, ainda estamos em fase de aperfeiçoamento. Mas é óptimo saber que funciona... e bem :)
Beijinhos para ti e para o Pedro
"(...)todas essas TRETAS que só servem para pressionar as mães a dar de mamar e adorá-lo a todo o custo e aguentar todos os dissabores e as que não podem ou não querem dar sentirem-se culpadas e a sentir que podem estar a perder algo de esp...ecial. É dar de comer. É a forma como os mamíferos dão de comer. Eu sentia tanta satisfação por ver o Pedro a mamar da minha mama, como ao sabê-lo a mamar do biberão que o pai lhe dava. Felizmente concretizámos o desejo de dar-lhe leite materno, mas se fosse artificial, a alegria de ver o meu bebé a ganhar peso e crescer lindo seria a mesma. (...)" isto chega a ser insultuoso de tão ignorante que é. Por dois motivos : Primeiro porque rebaixa todo o esforço que muitas mães fazem a dar de mamar colocando a amamentação ao nível da alimentação artificial, e depois porque é uma opinião não fundamentada de todo, que contraria todas as evidências cientificas que nos mostram que engordar e crescer não é o mesmo que desenvolver, e que o contributo que o Leite Materno tem é muito mais valioso do que qualquer outro leite administrado a um bebé humano. E portanto é um texto que mais valia ter ficado na gaveta...ou quiçá na cabeça desta Mulher. Dou-lhe os parabéns por ter amamentado, mas de uma proxima, em vez de andar a engordar bebés que se informe correctamente do contributo que o LEite MAterno tem na vida de uma criança e a razão pela qual nós temos uma SMAM e não temos uma Semana Mundial do Aleitamento Artificial. Não é fundamentalismo, é informação. O que são Tretas para umas pessoas, para outras são motivo de informação/formação.
Maravilhoso post. Se ha coisa queme irrita são relatos floreados da maternidade, prefiro coisas praticas e realistas do que histórias bonita sque só acrescentam culpas aquelas que se sentem menos à vontade na experiência de ser mãe. Eu nunca fui mãe, suponho que um dia o serei e se por um lado não faço ideia de como será a experiência (nem penso muito nisso, o que vier, será) há uma coisa de que tenho certeza: não quero ceder a pressões nem da mãe nem da sogra, da avó, da vizinha... cada pessoa tem o seu ritmo, mãe bebé e familia e nada melhoor do que ouvi-lo para saber que passo iremos dar a seguir.
Obrigada mais uma vez pelo relato.
Beijinho
É assim mesmo! Nem mais nem menos.
A minha experiência como sabes foi um pouco traumatizante. A subida do leite foi do pior, tive altas dores no corpo e febre (como se estivesse de gripe), depois as mamas tão quentes, que até fiz uma urticária na pele por baixo, uma comichão chata, depois mesmo com a Sara a fazer bem a acoplagem, foram as gretas (e dores), e depois quando tudo já estava normalizado, apareceu o abcesso mamário, pronto 2 operações à mama e a notícia de que não podia amamentar. Eu chorei muitoooo e no hospital estava tão triste. Mas tive mesmo de seguir em frente, não dá, não dá, adaptei-me aos biberões e aproveitei a liberdade que estes dão, pronto, assunto arrumado, que remédio. Ainda por cima de cada vez que ficava triste, as mamas enchiam logo de leite!, e não podia andar sempre a secar... é mesmo psicológico!
Quando estava internada, havia um bebé, que não comia nada, nem leite materno, nem várias marcas de artificial, isto é que é um desespero.
A única coisa que me custa agora é que ainda tenho dores na mama, ainda está a cicatrizar. Mas tudo passa.
Bem, li o anónimo e não sabe o que diz.
Eu sempre quis amamentar. Aliás, sempre me eduquei de que o leite materno é que é bom. As enfermeiras do centro de saúde sempre me disseram que eu tinha era que deixar o meu filho chorar durante 3 horas até se habituar, e não estar o dia e a noite com ele na mama, e que dar leite de lata nem pensar.
Não senti subida do leite, nunca tive os bicos com gretas, estavam sensíveis é certo, mas não me importava, o que queria era que o meu filho mamasse, ao fim de 1 MÊS, e o meu filho quase a morrer à fome, lá me disseram que talvez fosse melhor introduzir o leite de lata, que o meu não estava a ser suficiente, blábláblá. Andei 1 Mês a dar quase água ao meu filho. É de lamentar que para pessoas tão quadradas e "bem" formadas se faça isto a um bebé, e a uma Mãe que está sensibilizada, por razões que toda a gente sabe. Enfim, num próximo é leitinho da mama e leitinho de lata e mais nada!
Se houve coisa que me deu satisfação, foi dar de mamar durante um mês e meio (porque depois secou por ele) ao meu filho. QUando secou eu lamentei imenso, mas é a vida e ele está crescido e grande e gordinho. Talvez porque tenha passado FOME durante 1MÊS, agora só quer é comer. Até se vir uma migalha no chão ele come. Isto porque temos é que alimentar com leitinho materno, porque as outras são umas criminosas e enfarda brutos, que é só para engordar. Enfim...
À pessoa que escreveu como anónimo, como eu também o faço.. De facto, informe-se.. Recomendo-lhe o livro da Tracy Hogg que a Bloguista fala.. É o The Baby Whisperer.. Outra coisa que se devia informar é acerca dos bebés do pós 2ª Grande Guerra. Mais não digo relativamente a informa-se para que possa dar uma opinião fundamentada sem "palas à frente dos olhos. Na gaveta, devia sim ficar o seu comentário de quão estúpido, ignorante e sinceramente infantil é.
O post está extraordinário, muito bem escrito e com uma prespectiva em tudo correcta.
Um Pai que viu a mãe da sua filha sofrer de uma forma atroz.
Já aqui escrevi, mas não posso deixar de dizer o seguinte:
Concordo com o Anónimo de que não se deve comparar o leite matermo ao artificial, e que engordar não é o mesmo que desenvolver. Amamentei 2 vezes, da primeira vez até aos 22 meses, e agora já vou nos 9, portanto acho que sou mais do que uma defensora do leite materno. Mas acho que este post não tem a intenção de comparar o leite materno com a alimentação artificial, de modo algum! Penso que a ideia é "tirar os macaquinhos" da cabeça daquelas mulheres que não podem amamentar, para que não se sintam atormentadas por isso, porque mais vale uma mãe feliz e realizada a cuidar do seu bebé, do que uma mãe que se sente culpada ou contrariada. Damos o melhor por eles de acordo com as condições que temos e podemos, portanto não há que sentir culpa. Mas tal como diz o post não se deve desistir à mínima contrariedade! Por vezes é díficil, mas chega-se lá! E não ouçam os conselhos do tipo "ah, ela não vai dar de mamar, porque eu também já não consegui dar a ela..." - as avós nem sempre sabem tudo...
Continuo a dizer "Muito bem dito."
Alexandra
Post que envolve amamentação, envolve também sempre uma pirada da amamentação. É certinho. E tu não fugiste à regra, infelizmente. Ai...
Obrigada pela partilha :)
Ah! Obrigada! Adoro quando as pessoas fazem este tipo de comentários sem conhecer as situações... Sabe porqeue é que amamentei até aos 22 meses? Porque a criança é alérgica a outro tipo de leite. Quando comentar, da próxima vez, pense duas vezes.
Alexandra (a pirada da amamentação!)
Alexandra,
Parece-me que a "pirada da amamentação" referida no comentário postado a seguir ao seu não é dirigido a si, mas sim ao anónimo de 29 de setembro de 2011, às 11:58.
:)
Se não foi dirigido a mim, convém, numa próxima, quando alguém fizer um comentário deste género identificar bem a que se refere (apesar de eu achar que a participação em qualquer blog não deveria ter este tipo de comentários "insultuosos").
Alexandra
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